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Juarez Fonseca lança segundo livro com depoimentos de grandes nomes da música brasileira

“Aquarela Brasileira”, com entrevistas feitas nos anos 1980, é o segundo volume de uma série de quatro livros

Foto: Divulgação/Mário Grings

Cresci lendo os textos de Juarez Fonseca. Pesquisador musical nato, vejo Juarez — com folga — como a maior referência do jornalismo cultural gaúcho e, consequentemente, um dos grandes do país nessa cadeira. Minha leitura do Jornal Zero Hora, onde foi Editor Chefe no Segundo Caderno, sempre começava por suas colunas, entrevistas e reviews. Já pela ótica dos artistas, ter uma obra resenhada pelo Mestre — conhecer suas visões e entendimentos — sempre foi algo desejado e, à medida em que as pautas culturais encurtavam nos grandes veículos, Juarez Fonseca começou a atuar em outra frente: as redes sociais, publicando opiniões e a agenda cultural porto-alegrense em seu perfil no Facebook. Além do mundo virtual, atualmente o jornalista é colaborador do Jornal do Comércio

Seu último projeto em curso é a série de livros intitulada “Aquarela Brasileira”, que teve início em 2021, com o primeiro volume publicado pela Editora Diadorim e focado em entrevistas feitas nos anos 1970. Já o segundo, lançado agora em outubro pela L&PM, traz 31 entrevistas realizadas nos anos 1980. Recomendado pelo próprio autor, peguei meu exemplar na charmosíssima Pocket Store, livraria física da editora L&PM (Rua Félix da Cunha, 1167, Moinhos de Vento, Porto Alegre). “Aquarela Brasileira” será lançado durante a 70ª Feira do Livro de Porto Alegre, no dia 15 de novembro, às 19h, na Praça de Autógrafos Gerdau. 

Compre “Aquarela Brasileira” pelo site da L&PM

Ilustrado por fotos da época, esse livro-cápsula-do-tempo traz conversas tête-à-tête com Ney MatogrossoCaetano VelosoNara LeãoErasmo CarlosElis ReginaPaulinho da ViolaLuiz GonzagaRoberto CarlosMaria Bethânia, Gilberto GilRita Lee e Roberto de Carvalho, entre outros, e revela um entrevistador que sabe aproveitar o tempo em frente de um artista. Estudioso, o jornalista lança suas perguntas com assertividade, ciente daquilo que se passa no cotidiano dos músicos e, com isso, ganha a confiança e o respeito do interlocutor. Assim, seus entrevistados geralmente ficam à vontade em frente ao gravador, o que torna “Aquarela Brasileira” uma publicação muitas vezes reveladora e indispensável para os amantes da música. 

Retratos de uma época, poucos entrevistas envelheceram mal, uma delas é a que foi feita com Dick Farney Lúcio Alves. Desbaratinados com o início dos anos 1980, atotal incompressão de ambos com o cenário da MPB da época é chocante. Já o colóquio inédito com Rogério Duarte, um dos pivôs do tropicalismo, dá voz a uma das cabeças pensantes de um dos períodos mais férteis da nossa música. E há muito mais: a insatisfação de Marlene com sua carreira; a indolência de Angela Maria com a pauta feminista; o idealismo de Geraldo Flach; a consciência política de Eduardo Dusek; a sinceridade e o processo criativo do bon-vivantDorival Caymmi; o bate-papo com os amigos Lupicínio Rodrigues retratando as ambiguidades do compositor gaúcho; a genialidade cálida de Armando Albuquerque, cada entrevista traz um flash e um tom próprios. Ao ler o livro, tenho a impressão de que estou junto ao autor, na mesma sala ou espaço onde se dá o bate-papo. Juarez é sagaz, preza pela informalidade, mas demonstra conhecimento em cada pauta, e, muitas vezes, parece se colocar como um igual, alguém próximo, e não um intruso bisbilhotando a vida alheia. Desse modo, não apenas aspectos da vida artística se desvelam, mas pinçamos opiniões políticas e de cunho pessoal. Não à toa Elis Regina trocava correspondências com ele e Nara Leão escreveu um bilhete para Chico Buarque recomendando que recebesse Juarez para uma entrevista: “Tenho esse bilhete guardado, sempre uso ele quando preciso entrevistá-lo novamente“, disse ao Memorabilia. 

Ao final do livro, há três entrevistas bônus, todas preciosíssimas: Atahualpa Yupanqui e Mercedes Sosa, ícones supremos da música latino-americana, afora um longa conversa com Glauber Rocha — o único artista fora do universo musical no livro — feita na casa do diretor de “Terra em Transe” (1967), no Rio de Janeiro, em outubro de 1979. Em determinado ponto da conversa, o cineasta fala da atual situação política do país, e num rompante de desconfiança, pergunta a Juarez:

Glauber: Mas você vai publicar essa entrevista? Porque eu tô falando e não quero perder tempo
Juarez: Se eu propus a entrevista é óbvio que será publicada

Glauber: Isso [o que ele está falando para Juarez] eu nunca falei pra imprensa, você está conseguindo aqui. 

A série de livros “Aquarela Brasileira” segue com entrevistas feitas nos anos 1990 e 2000, com desdobramento em outros dois livros, ambos sem data de publicação definidas.

Como autor Juarez Fonseca ainda escreveu “Gildo de Freitas” (Tchê/RBS), participou dos livros “Sombras e luzes – Um olhar sobre o século” (Samrig/L&PM), “Gaúchos – Líderes e vencedores do Século XX” (Assembleia Legislativa/Federasul) e das antologias “Nós, os gaúchos” e “Sobre Porto Alegre“ (ambas da Editora da Universidade). Pela L&PM publicou “Ora bolas – o humor de Mario Quintana”, que apresenta pequenas histórias sobre o poeta contadas por amigos, familiares e conhecidos. 

Reveja aqui a live | 22/12/22 | feita pelo canal Pitadas do Sal falando sobre o primeiro volume de “Aquarela Brasileira“. 

Por Márcio Grings

Fonte: gringsmemorabilia

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