Antes de se tornar ícone do rock brasileiro como artista, Maluco Beleza trabalhou em estúdio produzindo e compondo para outros artistas
A carreira de Raul Seixas teve várias facetas. Antes de se tornar ícone do rock como cantor e compositor, o Maluco Beleza viveu seus dias de produtor musical.
Após tentar a sorte e fracassar no Rio de Janeiro com a banda Raulzito e Os Panteras, o baiano voltou a Salvador. Naturalmente, ficou remoendo a empreitada que não deu certo.
Logo ele conheceria pessoas ligadas à CBS, dentre elas Jerry Adriani. O ícone da Jovem Guarda ajudou no processo de convencê-lo a retornar ao Rio para trabalhar na gravadora como produtor.
Desta forma, entre 1969 e 1973, Raul produziu outros artistas do selo. Em muitos casos, contribuiu até com composições. Foi assim, por exemplo, com sucessos como “Playboy”, gravado por Renato & Seus Blue Caps; “Ainda Queima a Esperança”, de Diana, e “Tudo Que É Bom Dura Pouco”, do próprio Jerry Adriani.
Declarações sobre Raul Seixas produtor
Em entrevista recuperada pelo site R10, Jerry conta que sua relação com Raul era tão boa que ele pediu ao diretor da CBS, Evandro Ribeiro, para que o Maluco Beleza produzisse seus trabalhos.
“Ele ficou meio cabreiro, mas acabou topando. Produziu três LPs meus e é autor de um dos maiores sucessos da minha carreira, ‘Doce, Doce Amor’.”
Ao relembrar o trabalho de Seixas ao compor e produzir outro astro da época, Odair José, Cláudio Cavalcanti comentou ao Diário de Notícias (via UFU):
“É fantástico. O danado do Raul faz uma musiquinha de Odair José, com arranjo igual aos do Odair José, cantando igual ao Odair José. Mas a letra é que é fogo! Aparente-mente, na base de Odair José… Mas aí a gente presta atenção, e é uma paulada. A ‘mensagem’ é de tamanha violência, a coisa é curtida tão ‘até o fundo’, que a gente descobre por que Raul Seixas está no primeiro lugar. E fica tudo muito bonito.”
Em afirmação presente no livro Raul Seixas Por Ele Mesmo, de Sylvio Passos, Raul demonstrou compreender que sua atuação como produtor forneceu a ele uma evolução imprescindível. Talvez sem esse período anterior, sua carreira artística não teria decolado logo de cara.
“Eu tive uma escola muito importante que foi a CBS […]. Foi uma vivência fantástica para mim. Aprendi muito a comunicar.”
A lista de artistas produzidos por Raulzito incluiu ainda Tony & Frankye, Osvaldo Nunes, Balthazar, Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star. Guarde os três últimos nomes.
Sociedade da Grã-Ordem Kavernista
Em 1971, foi lançado um dos trabalhos mais significativos de Raul como produtor: a inovadora ópera-rock Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, na qual ele também contribui com composições e tocando guitarra.
A tal Sociedade da Grã-Ordem Kavernista era formada por Raul e outros três músicos, que depois também ganhariam notoriedade em carreiras solo: Sérgio Sampaio, Edy Star e Miriam Batucada.
Apesar de ter tido pouca repercussão na época e até ter sido recolhido pela censura da ditadura militar, o disco cresceu ao longo do tempo. Hoje, é considerado um marco da música transgressora no Brasil, misturando rock psicodélico, MPB e ritmos regionais como baião, xote, xaxado e outros.
Raul Seixas, não mais produtor
A participação no álbum reacendeu a chama de artista que havia em Raul Seixas. Ele continuou trabalhando como produtor por mais um tempo, mas logo se viu inclinado e convencido a retomar a própria trajetória.
Em 1973, Raul lançou seu aclamado disco de estreia, Krig-ha, Bandolo!. Emplacou, no mesmo ano, seu primeiro grande sucesso: a música “Ouro de Tolo”.
A partir daí, os dias como produtor estavam contados. Com uma sequência de grandes trabalhos autorais — Gita (1974), Novo Aeon (1975), Há 10 Mil Anos Atrás (1976) —, o Maluco Beleza se tornaria o maior nome do rock nacional na década e, quiçá, em todos os tempos.
Fonte: Rollingstone